sábado, 18 de dezembro de 2010

Desvendamos o esperma


ATENÇÃO: ESTE CONTEÚDO POSSUI TEOR SEXUAL E É IMPRÓPRIO PARA MENORES DE 18 ANOS.

Foi um aplicado – e provavelmente espinhento – estudante holandês chamado Ludwig Hamm quem, em 1677, descobriu que aquele pegajoso líquido expelido pelo pênis no ápice da relação sexual tinha alguma utilidade orgânica. O 'descobridor' do esperma levou, numa época em que não existia a revista Playboy nem filme de sacanagem, uma garrafa (!) de sêmen ao seu mestre, o inventor e cientista Anton van Leeuwenhoek, e ali apontou minúsculos bichinhos vivos que, a princípio, foram batizados de "animáculos".

Naqueles tempos de inocência, o pequeno Ludwig ainda não podia prever muita coisa. Mal sabia ele que, centenas de anos depois de sacramentada a liquidez da sua aventura porno-científica, o esperma estaria, literalmente ou não, na boca do povo, entre dúvidas sobre sabores, cores, odores, texturas e até propriedades nutricionais e dermatológicas.

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O sêmen faz jorrar discussões pessoais. Há aquelas que se incomodam terrivelmente com qualquer contato e querem, na medida do possível, manter distância. De outro lado estão as que exibem uma incrível intimidade com o assunto, como a roteirista Anabela Curi. "Quando eu era adolescente, é claro que achava nojento quando algum namoradinho espirrava em mim. Mas o tempo passa e você vê que certas coisas são inevitáveis e que, dependendo da sua abertura, podem até se transformar em assunto de interesse", diz.

Não que Anabela seja uma espermomaníaca, mas ela garante que está muito longe de se intrigar com a viscosa presença da substância, como acontece com sua colega de trabalho Fernanda Patrício. "Ainda hoje, quando acabo de transar, principalmente se não tiver usado camisinha, não sossego enquanto não for para o banho. No sexo oral, gozar na boca, nunca! Fico até arrepiada de pensar", conta. "Sou fresquérrima", assume.

Anabela, por sua vez, já gozou inclusive algumas experiências gustativas e arrisca teorias. "Não dá pra dizer que é saboroso porque aí já é forçar uma barra. Na maioria dos casos, tem gosto de água sanitária e fica penicando na língua. Mas com alguma experiência, você percebe até que o paladar muda de homem pra homem", garante.

O sabor do esperma

A ciência tenta comprovar os experimentos da roteirista, segundo o que afirma a sexóloga Margareth Labate. "Existem alguns estudos que dizem que o gosto do esperma se altera de acordo com o que se come. É, na verdade, o mesmo princípio que também modifica a composição do leite materno. De acordo com essas pesquisas, o sêmen de quem ingere comidas muito condimentadas ou fuma e bebe, é mais amargo. De toda maneira, ainda não há nada muito desenvolvido sobre esse assunto", comenta.

A sério ou não, o fato é que o escritório de patentes dos Estados Unidos tem registrada uma fórmula de complemento alimentar supostamente capaz de levar o organismo a produzir um esperma, digamos, mais saboroso. O complemento consiste em uma mistura de frutas liofilizadas, vegetais e temperos e pode ser preparado como bebida, tablete, goma de mascar ou cápsula. Os testes feitos pelos responsáveis pela patente com 27 casais indicaram, entre outras conclusões, que gengibre, canela, noz-moscada e uma combinação de banana, morango e aipo tiveram efeito neutralizante no gosto amargo da ejaculação. Segundo esse pessoal, o efeito pode ser sentido 24 horas após a ingestão do composto.

Outra variação comum está na textura. Segundo o sexólogo Hélio Felippe, isso ocorre sobretudo em função de questões de formação orgânica. "Um fator determinante para a textura é o número de canais seminais do organismo do homem. Quanto mais canais, mais espesso fica o líquido. A frequência das ejaculações influi bastante, já que há um armazenamento da substância que vai ficando mais densa em proporção à sua produção", explica ele.

Assim, não é de se espantar que algumas mulheres contem com uma empírica análise clínica como aliada para denunciar certos comportamentos masculinos. "Outro dia mesmo ouvi uma paciente suspeitando de que o marido tinha uma amante, pela quantidade da ejaculação dele. Segundo ela, ele vinha apresentando um volume de esperma menor do que o habitual e ela supunha que isso se devia a relações sexuais que ele poderia estar mantendo fora do casamento. Na verdade, isso é até possível. Mas existem outros muitos fatores que podem estar acarretando isso como medicação, estresse, alimentação e mesmo masturbação", alivia o Dr. Hélio.

Onde é produzido

Cerca de 70% do esperma é produzido numa glândula chamada vesícula seminal, que fica entre a bexiga e o pênis. Os 30% restantes são de responsabilidade da próstata, outra glândula vizinha. A primeira despeja um líquido mais fluido e a segunda entra com o tom esbranquiçado. Apenas 1% da composição do líquido são espermatozóides - cerca de 100 milhões deles por mililitro de sêmen. O que sobra são líquidos excipientes, ricos principalmente em zinco, um antioxidante poderoso, que evita o envelhecimento precoce do organismo. Vai ver que daí surgiu aquela famosa lenda do creme antiidade natural.

Creme antiidade?

"Quando eu era mais nova, ouvi uma amiga contar que já tinha passado no rosto. Fiquei com ânsia de vômito na hora, imaginando que aquilo ia secar e grudar na cara", recorda a advogada Letícia Nascimento. O dermatologista Paulo Roberto Nogueira faz questão de aplicar algumas doses de bom senso a esse controvertido cosmético. "Isso não existe. Ninguém precisa passar sêmen no rosto para tratar da pele. Todo mundo pode encontar cremes adequados e muito mais eficientes em qualquer farmácia", lembra ele.

Sexo seguro

Como objeto de utilidade prática - e isso já havia sido comprovado pelo nosso amigo holandês Ludwig - o esperma só serve mesmo como inseminador. Nisso ele é realmente imbatível e, portanto, é bom ter cuidado com algumas brincadeiras se o objetivo final não for um bebê. "É por isso que a prática do coito interrompido é perigosa. Qualquer gotícula de sêmen que entrar em contato com a vagina pode, mesmo que com poucas chances, resultar numa fecundação", alerta a sexóloga Margarth Labate.

Entretanto, expostos ao ar, na superfície da pele, engolidos ou depositados em qualquer lugar que não seja uma vagina, o tempo de vida deles é muito curto, poucos segundos. "Isso, no entanto, não impede que, mesmo com espermatozóides mortos, o esperma não tenha a possibilidade de contaminar o organismo com algumas DSTs, devido às substâncias existentes no fluido seminal", completa o Dr. Hélio Felippe.


É por essas e outras que o melhor a fazer, nesses casos, é deixá-lo bem amarradinho dentro de uma camisinha. Ou numa garrafa, como fez o pequeno Ludwig. Quem sabe você não escreve em tintas muito nobres o seu nome na história da ciência?



bolsa de mulher

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